Integração entre BRT e bicicletas

Um estudo lançado hoje (21) pelo BRT Sorocaba e o Instituto Aromeiazero traz um diagnóstico sobre o uso de bicicletas na cidade, e uma série de recomendações para acelerar a integração entre bikes e o sistema de corredores de ônibus na localidade paulista.

Entre as medidas apontadas destacam-se a maior oferta de bikes públicas e de bicicletários, melhorias na arborização urbana e a criação de zonas de tráfego calmo, além da ampliação e conservação das ciclovias da cidade, hoje com 125 km de vias cicláveis. O trabalho também indica campanhas para promover o uso de bicicletas e ações de segurança pública e de trânsito voltadas aos ciclistas.

 

A parceria entre a Ong e a empresa responsável pelo BRT teve início com uma série de oficinas e conversas com os operadores do sistema sobre a mobilidade em Sorocaba e sua relação com a bicicleta. A arquiteta e urbanista Heloisa Ribeiro, que conduz o projeto Mais Bicicletários, do Instituto Aromeiazero, foi uma das coordenadoras da pesquisa de campo em Sorocaba. Ela esclarece que “o Instituto foi contratado pela empresa do BRT, mas os resultados desse estudo poderão ser usados também pelo poder público para melhorar a mobilidade do município como um todo.”

 

Além de patrocinar a pesquisa, a operadora do BRT também participou dos trabalhos, destacando funcionários para ouvir a opinião de usuários dos bicicletários nos três terminais do sistema: Vitória Régia, São Bento e Ipiranga, todos eles dotados de bicicletários. Esse material se somou às pesquisas feitas pelo Instituto Aromeiazero com ciclistas que utilizam as ciclovias nos arredores desses terminais. Ao final, todos esses dados permitiram fazer uma análise e apontar diretrizes sobre os principais desafios para o uso da bicicleta e para a integração modal na cidade.

 

Plataforma de um Terminal do BRT em Sorocaba Foto: Alexandre Maciel

 

O presidente da BRT Sorocaba, Renato Andere, explica os motivos que levaram a empresa a apoiar a realização desse estudo: “Quanto mais propiciarmos que a mobilidade urbana se desenvolva de forma integrada, todos saem ganhando, em especial, o meio ambiente.” E acrescentou: “Se temos mais pessoas utilizando o ônibus e a bicicleta, conseguimos reduzir o número de carros nas ruas e contribuir para a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. Queremos o futuro das cidades com mais qualidade de vida e bem-estar.”

 

O Estudo

Os trabalhos para a pesquisa “A Bicicleta e a Intermodalidade: Um estudo para Boas Práticas no BRT Sorocaba” tiveram início em dezembro de 2023, conta a arquiteta, com um diagnóstico físico territorial, obtido a partir de bases de dados da Prefeitura sobre o transporte público. Com esses dados, e utilizando o aplicativo Cittamobi, a pesquisa começou abordando não o ciclista, mas o usuário do transporte coletivo, entendido como potencial utilizador do transporte intermodal e que poderá, se estimulado, fazer parte do percurso com bicicleta, parte com o transporte público.

 

Após essa fase, explica Heloísa Ribeiro, seguiram-se entrevistas em campo com ciclistas, para recolher sugestões e percepções, além da pesquisa feita pelo próprio BRT com usuários dos bicicletários. Ao final, com coordenação de outra pesquisadora, a arquiteta Suzana Nogueira, foram elaboradas diretrizes com propostas que serão apresentadas agora ao BRT para melhorar a ciclomobilidade no sistema de transporte.

 

O estudo traz recomendações para um aumento na taxa de integração modal na cidade, considerada baixa como mostram os dados da pesquisa.  “Observando as diretrizes apontadas por este estudo, devemos entender que, para além da questão da infraestrutura, é importante um olhar sistêmico para outras camadas trazidas pelo levantamento. Destacamos ali quatro temas que poderão ajudar a melhorar a intermodalidade: o primeiro é mesmo a infraestrutura – melhores bicicletários e ciclovias; o segundo é comunicação e campanhas; e ainda devemos observar educação para a mobilidade e ações de políticas de incentivo”, elenca a arquiteta.

 

“Sorocaba pode ser um caso referencial para outros municípios do país. Por mais que, neste trabalho, tenhamos olhado com profundidade para o diagnóstico local, de modo a compreender as questões intrínsecas ao município, este material pode servir como exemplo para outras cidades que queiram apostar na intermodalidade”, destaca a pesquisadora.

 

Sorocaba e seu BRT

Localizada a cerca de 112 km da capital paulista, a cidade de Sorocaba congrega uma população estimada em 723 mil habitantes (IBGE 2022), sendo a quarta cidade do estado de São Paulo em população. Na área de mobilidade urbana, conta com um sistema de transporte público de alta capacidade, o chamado BRT Sorocaba, que combina os benefícios do metrô com a flexibilidade dos ônibus.

 

Também foi uma das primeiras cidades brasileiras a investir no estímulo ao uso da bicicleta, tal como recomenda a Política Nacional da Mobilidade Urbana (Lei Federal 12.587/2012). O Plano Cicloviário de Sorocaba começou a ser planejado mesmo antes da promulgação da lei federal, ainda em 2006, e no ano seguinte a Prefeitura local iniciou a implantação da rede cicloviária principal, nas principais avenidas da cidade, totalizando 35 km.

 

Em 2008, a gestão municipal pôs em marcha o programa Pedala Sorocaba, que ao longo dos anos implementou diversas iniciativas para a promoção da bicicleta na cidade. A previsão inicial era a de atingir 100 km de ciclovias até o final de 2012, meta que foi superada naquele ano, com 104 km implantados. Em março de 2024 a cidade contava com pouco mais de 125 km de infraestrutura cicloviária: 110 km são ciclovias, 7 km de ciclofaixas e 8 km na forma de ciclorrotas.

 

Ao longo dos anos, a cidade também constituiu um sistema de bicicletas públicas, o Integrabike, e uma rede de paraciclos e bicicletários, para a guarda segura das bikes, alguns deles instalados em terminais de transportes de massa, com os do BRT Sorocaba.

 

Já o sistema BRT Sorocaba começou a ser implantado em 2019 e em agosto de 2020 era inaugurado seu primeiro trecho operacional, o Corredor Itavuvu e o Terminal Vitória Régia, conta Renato Andere, presidente da empresa. “Transportamos 75 mil passageiros por dia útil e operamos 24 linhas, sendo 13 linhas no trecho Leste-Oeste e 11 no perímetro Norte-Sul. (…) No ano passado, uma pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) apontou que 82,32% dos passageiros avaliaram o tempo de viagem no BRT como ótimo/bom”, orgulha-se o dirigente.

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